DIRETRIZES MULTICULTURAIS DA ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA: MODELO BIOECOLÓGICO DE BRONFENBRENNER

Alberto Abad
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7748-6008

Resumo

A Associação Americana de Psicologia (American Psychological Association) considerando que os profissionais da psicologia cada vez mais frequentemente se envolvem com pessoas e grupos multiculturais e, portanto, precisam de modelos mais eficazes de engajamento profissional que visem oferecer serviços multiculturalmente competentes, desenvolveram as diretrizes multiculturais atuais alicerçadas no Modelo Ecológico de Bronfenbrenner (1979) denominadas “Uma Abordagem Ecológica ao Contexto, Identidade e Interseccionalidade” (An Ecological Approach to Context, Identity, and Intersectionality) (2017). Contudo, considerando necessidade de atualização das mesmas a cada dez anos, pondera-se relevante a atualização do Modelo antes citado pelo Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner e Morris (2006) para otimizar a provisão de serviços multiculturalmente competentes que se traduzam, entre outras, na prática, pesquisa, educação e consultoria psicológica. O objetivo do artigo é analisar as Diretrizes Multiculturais da Associação Americana de Psicologia e sua atualização no Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner e Morris almejando contribuir ao estudo da Ciência do Desenvolvimento Humano e da Psicologia da Migração. A metodologia empregada foi uma revisão sistemática de artigos que articulassem o Modelo Bioecológico e a Psicologia da Migração. Como resultados observou-se que o Modelo empregado pela Associação Americana de Psicologia é robusto, porém pode ser apurado com a atualização do Modelo antes citado pelo Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner e Morris (2006) para otimizar a consecução do objetivo fixado considerando as recomendações da APA, no tocante à atualização das Diretrizes Multiculturais a cada dez anos com base em modelos de prática profissional efetiva e evidências científicas.

Palavras chave: Diretrizes Multiculturais; Modelo Bioecológico; Psicologia da Migração.

Resumen

La Asociación Estadounidense de Psicología, considerando que los profesionales de la psicología se involucran cada vez más con personas y grupos multiculturales y, por lo tanto, necesitan modelos más efectivos de compromiso profesional que apunten a ofrecer servicios multiculturalmente competentes, desarrolló las directrices multiculturales basadas en el Modelo Ecológico de Bronfenbrenner (1979) denominadas “Un enfoque ecológico del contexto, la identidad y la interseccionalidad” (2017). Sin embargo, considerando la necesidad de su actualización cada diez años, es importante renovar el modelo antes mencionado por el Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner y Morris (2006) para optimizar la prestación de servicios multiculturalmente competentes que se traduzcan, entre otros, en la práctica. investigación, educación y consultoría psicológica. El objetivo del artículo es analizar las Directrices Multiculturales de la Asociación Americana de Psicología y su actualización sobre el Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner y Morris, buscando contribuir al estudio de la Ciencia del Desarrollo Humano y la Psicología de la Migración. La metodología utilizada fue una revisión sistemática de artículos que articularon el Modelo Bioecológico y la Psicología de la Migración. Como resultado se observó que el Modelo utilizado por la Asociación Americana de Psicología es robusto, pero se puede comprobar con la actualización del modelo mencionado anteriormente por el Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner y Morris (2006) para optimizar el logro del objetivo. establecidos considerando las recomendaciones de la APA, en cuanto a la actualización de las Directrices Multiculturales cada diez años con base en modelos de práctica profesional efectiva y evidencia científica.

Palabras clave: Directrices multiculturales; Modelo Bioecológico; Psicología de la Migración.

Abstract

The American Psychological Association developed the multicultural guidelines based on Bronfenbrenner's Ecological Model (1979). The guidelines named “an Ecological Approach to Context, Identity, and Intersectionality” (2017) consider that psychology professionals are increasingly involved with multicultural people and groups and therefore need more effective models of professional engagement that aim to offer multiculturally competent services. However, as they should be updated every ten years, it is relevant to use Bronfenbrenner's Bioecological Model to optimize the provision of multiculturally services that translate, among others, into practice, research, education, and psychological consultancy. The article aims to analyze the Multicultural Guidelines of the American Psychological Association and its update in Bronfenbrenner's Bioecological Model. We want to contribute to the study of the Science of Human Development and the Psychology of Migration. The methodology used was a systematic review of articles that articulated the Bioecological Model and the Psychology of Migration. As a result, we observe that we can improve the American Psychological Association Model by updating it with Bronfenbrenner and Morris's Bioecological Model (2006) to optimize the achievement of APA's objective.

Key-words: Multicultural guidelines; Bioecological model; Psychology of Migration.

 

Introdução

Com fundamento na importância do papel que a diversidade e o multiculturalismo desempenham na maneira como as pessoas e os grupos constroem a sua identidade, se definem e interagem globalmente (APA, 2017), a Associação Americana de Psicologia (APA) desenvolveu as Diretrizes Multiculturais (Anexo 1) que fornecem aos profissionais da psicologia uma estrutura de apoio na forma de parâmetros para gerar modelos mais eficazes de engajamento profissional e prover serviços multiculturalmente competentes (APA, 2017)

Num contexto de globalização, com mais frequência do que nunca, os psicólogos se envolvem com pessoas e grupos de uma série de nações e culturas diferentes (Hook & Watkins, 2015) e precisam compreender uma ampla gama de expectativas psicológicas individuais, interações sociais, respostas de integração social e bem-estar psicológico das pessoas em mobilidade transcultural (Schwartz et al., 2020).

As diretrizes multiculturais atuais denominadas Uma Abordagem Ecológica ao Contexto, Identidade e Interseccionalidade (2017), observam a necessidade de reconsiderar a diversidade e a prática multicultural dentro da psicologia profissional levando em conta a interseccionalidade como seu objetivo principal. Neste intuito, a APA delineou seu Modelo Orientação Multicultural (MOM) em cinco níveis alicerçando a sua estrutura conceitual no Modelo Ecológico de Bronfenbrenner (1979).

APA recomenda atualizar suas Diretrizes Multiculturais (DM) a cada dez anos com base em modelos de prática profissional efetiva e evidências científicas (APA, 2017). Assim sendo, pondera-se relevante a sua atualização com o Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner e Morris (ME) (2006) para otimizar a provisão de serviços multiculturalmente competentes que se traduzam, entre outras, no trabalho clínico, pesquisa, educação, treinamento e consultoria psicológica tomando em conta a diversidade, os períodos diferentes no tempo e a interseccionalidade (APA, 2017).

A sugestão anterior se alicerça nas subsequentes reformulações que o ME teve nas últimas décadas, passando por três fases de evolução (Krebs, 1997). Dentre as influencias que Bronfenbrenner e Morris (2006) ressaltam no novo modelo, destacam-se a Psicologia Cultural de Cole (1995) e a Psicologia life-span de Baltes, Lindenberger e Staudinger (2007) relacionadas à investigação teórica e empírica sobre o desenvolvimento humano.

O presente artigo, inicia com uma revisão sistemática de artigos que articularam o ME e a Psicologia da Migração (PM), posteriormente apresenta-se sinteticamente o ME, para finalmente discutir a importância de utilizá-lo como atualização do MOM utilizado pela APA na análise das DM, visto que os autores, ao ampliar a perspectiva original do desenvolvimento no novo modelo, incluíram na sua definição as características biopsicologicas individuais e grupais, e consideraram o desenvolvimento  como um fenômeno que se desdobra ao longo da vida e através de gerações consecutivas, acentuando a importância do fator tempo – cronossistema.

Objetivo

Propor o Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner e Morris como atualização das as Diretrizes Multiculturais da Associação Americana de Psicologia almejando contribuir ao estudo da Ciência do Desenvolvimento Humano e da Psicologia da Migração.

Método

Para atingir o objetivo geral, inicialmente se realizou uma revisão sistemática de artigos que articulassem o Modelo Bioecológico e a Psicologia da Migração. Nesse intuito, elegeram-se as bases de dados ERIC (https://eric.ed.gov/), Google Scholar (https://scholar.google.com.br/) PsycNET (https://psycnet.apa.org) que abrange as bases de dados PsycINFO, PsycARTICLES e PsycBOOKS. Essas fontes de informação foram escolhidas por sua relevância para as áreas de Psicologia e/ou Relações Internacionais, ou seja, campos de conhecimento diretamente relacionados ao tema deste trabalho.

Para recuperar publicações que articulassem o Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner e a Psicologia da Migração na PsycNET, foi feita uma busca com a seguinte combinação de termos e expressões: Results for Any Field: Bio ecological model OR Any Field: Ecological systems theory OR Any Field: Ecological systems OR Any Field: Bronfenbrenner AND Any Field: Migration Theory OR Any Field: Psychology of migration AND APA Full-Text Only AND Impact Statement AND Open Access AND Peer-Reviewed Journals only. Na ERIC, foram utilizados ("Bioecologial Model" OR Bronfenbrenner) AND ("Psychology of migration" OR Migration). Finalmente na Google Scholar utilizaram-se os termos ("Bioecologial Model" OR Bronfenbrenner) AND ("Psychology of migration"). Não foram feitas, evidentemente, restrições quanto ao tipo de texto (artigo, capítulo etc.), ano de publicação, idioma etc. Almejou-se ser o mais inclusivo possível na revisão sistemática.

Após empregar os processos de revisão sistemática da literatura apresentados na Figura 1, oito textos foram incluídos na análise inicial:

  1. Gopaul-McNicol, S. A. E., Clark-Castro, S., & Black, K. (1997). Cognitive testing with culturally diverse children. Cultural diversity and mental health, 3(2), 113.
  2. Idemudia, E., & Boehnke, K. (2020). Psychosocial Experiences of African Migrants in Six European Countries: A Mixed Method Study.
  3. Ince, M. L. (2019). Supporting learning of practitioners and early career scholars in physical education and sports pedagogy. Sport, Education and Society, 24(6), 584-596.
  4. Mukthyala, S. (2013). Lived experiences of Indian international students: Migration, acculturation, and resilience.
  5. Roberts, K. M. (2012). Tia's acculturation: a case study exploring perceptions and experiences of one child's migration from Eastern Europe to the United Kingdom (Doctoral dissertation, Newcastle University).

 

 

Figura 1 Diagrama Prisma de processos empregados para revisão sistemática

  1. Schwartz, S. J., Walsh, S. D., Ward, C., Tartakovsky, E., Weisskirch, R. S., Vedder, P., ... & Benish-Weisman, M. (2020). The role of psychologists in international migration research: Complementing other expertise and an interdisciplinary way forward. Migration Studies.
  2. Suárez‐Orozco, C., & Qin, D. B. (2006). Gendered perspectives in psychology: Immigrant origin youth. International Migration Review, 40(1), 165-198.
  3. Titzmann, P. F., & Lee, R. M. (2018). Adaptation of young immigrants. European Psychologist.

Finalmente ao analisar com mais detalhe os textos anteriores, observou-se que quatro deles só mencionavam brevemente o Modelo Ecológico de Bronfenbrenner (1979), porém sem articulá-lo com a Psicologia da Migração, assim, quatro textos foram incluídos na análise final:

Mukthyala, S. (2013). Lived experiences of Indian international students: Migration, acculturation, and resilience: Trata-se de uma Tese Doutoral para atingir o grau de Doutor em Filosofia da Universidade de Duquesne (Pittsburgh, Pensilvânia, Estados Unidos). O objetivo da tese é descrever, desde uma perspectiva fenomenológica, a experiência vivida por estudantes indianos internacionais de pós-graduação que frequentam universidades americanas. Os dados obtidos na pesquisa foram analisados usando os Fatores Ecológicos do desenvolvimento humano (Bronfenbrenner, 1986), ou seja, em termos do autor, temas relacionados aos sistemas acadêmico, social, cultural e familiar. O modelo bioecológico de desenvolvimento humano de Bronfenbrenner (2005) também foi incorporado na dissertação para obter uma perspectiva multidimensional do processo de aculturação desses estudantes.

Roberts, K. M. (2012). Tia's acculturation: a case study exploring perceptions and experiences of one child's migration from Eastern Europe to the United Kingdom: Assim como o texto anterior, trata-se de uma Tese Doutoral para atingir o grau de Doutor em Psicologia Educacional na Universidade de Newcastle (Newcastle upon Tyne Reino Unido). O objetivo principal deste texto foi explorar o processo de aculturação de uma menina de 12 anos (Tia Nastase) que chegou ao Nordeste da Inglaterra proveniente do Leste Europeu pouco. O modelo de Bronfenbrenner é utilizado, parafraseando as palavras da autora: para explorar tanto experiências e percepções de Tia, quanto as perspectivas de seus pais e professores no intuito de compreender o processo da aculturação na sua nova sociedade.

Schwartz, S. J., Walsh, S. D., Ward, C., Tartakovsky, E., Weisskirch, R. S., Vedder, P., ... & Benish-Weisman, M. (2020). The role of psychologists in international migration research: Complementing other expertise and an interdisciplinary way forward: trata-se de uma nota de pesquisa que aborda tanto do papel e contribuição do psicólogo no estudo da migração internacional, quanto as maneiras pelas quais os estudos psicológicos podem ser integrados ao trabalho de outros campos das ciências sociais. O objetivo é delinear a contribuição da psicologia aos estudos sobre migração internacional, e dessarte, abrir um diálogo com outras disciplinas sobre o lugar da pesquisa psicológica no campo da pesquisa da migração. Dentre os resultados obtidos, os autores destacam que dentre as contribuições mais relevantes que os psicólogos fizeram para a pesquisa de migração, é a conexão entre níveis de análise e a exploração de mecanismos que ligam fatores contextuais com experiências individuais.

Titzmann, P. F., & Lee, R. M. (2018). Adaptation of young immigrants: o objetivo deste artigo foi destacar, com base na psicologia do desenvolvimento, o processo de desenvolvimento de aculturação em adolescentes imigrantes. O texto, além de se alicerçar no Modelo Ecológico de Bronfenbrenner (1979), acrescenta os conceitos de tempo aculturativo, andamento, ritmo e sincronicidade como um meio de estudar sistematicamente as mudanças aculturativas ao longo do tempo em adolescentes imigrantes.

Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner

Urie Bronfenbrenner no seu livro The ecology of human development: experiments by nature and design (1979), reconhecendo a importância de integrar os objetos de estudo das ciências sociais em um trabalho multidisciplinar para aprofundar e facilitar a compreensão dos fenômenos de desenvolvimento da pessoa, questionava as teorias que consideravam o contexto e o desenvolvimento em forma independente – separando os atributos pessoais da cultura. Bronfenbrenner destarte, propôs a Teoria Ecológica, definindo o desenvolvimento como uma mudança duradoura como um indivíduo percebe e lida com o ambiente (1979).

Vinte e seis anos mais tarde, após subsequentes reformulações, o autor incluiu o cronossistema e uma descrição mais detalhada do desenvolvimento humano (Bronfenbrenner, 1996), houve uma transição de um foco no meio ambiente e no contexto para uma visão centrada nos processos proximais (Bronfenbrenner & Morris, 2006). Nasce assim o MB que sugere a interação sinérgica de quatro núcleos inter-relacionados, Processo-Pessoa-Contexto-Tempo (PPCT), no intuito de estudar o desenvolvimento humano (Bronfenbrenner & Morris, 2006)

O primeiro construto do modelo é o processo – as diferentes formas de interação entre organismo e ambiente (Bronfenbrenner & Morris, 2006). Para os autores, as formas particulares de interação entre organismo e ambiente imediato que operam com o tempo – processos proximais (PP) – constituem uma espécie de motores do desenvolvimento. Inclusive, para os autores os PP têm alterado a natureza do curso do próprio desenvolvimento da espécie (Bronfenbrenner & Morris, 2006). Sem embargo, para apreciar a importância, dinâmica e poder dos PP é preciso analisar os outros três construtos da teoria (Pessoa, Contexto e Tempo).

As características da Pessoa (CP) – segundo construto – têm a capacidade de afetar a direção e o poder dos PP ao longo da vida. Influem a definição do curso do desenvolvimento futuro (Bronfenbrenner & Morris, 1998). Assim, as disposições da pessoa viabilizam, ou não, a operação dos PP, já que podem ser do tipo de características geradoras ou comportamentos ativos (p. ex., autoeficácia, curiosidade, resposta positiva à iniciativa de outros), ou disruptivas/inibidoras ou comportamentos passivos ( p. ex., apatia, irresponsabilidade, impulsividade) sendo que estas dificultam o processo de desenvolvimento (Dessen & Maciel, 2014). Já os recursos bioecológicos da pessoa constituem as competências (p. ex., capacidades, habilidades, conhecimentos) ou deficiências (p. ex., físicas, mentais, problemas genéticos) modulam o funcionamento eficaz dos PP. Finalmente, as demandas pessoais (p. ex., idade, gênero, cor, etnia) – muitas vezes na forma de construtos sociais – desencadeiam ou desencorajam reações do ambiente social, facilitando ou dificultando a viabilidade dos PP (Bronfenbrenner & Morris, 2006).

 O terceiro construto-chave do Modelo – contexto – compreende a interação de quatro níveis ambientais: microssistema, definido como um complexo conjunto de relações entre a pessoa e o ambiente imediato em que está inserida, contribuindo diretamente com os PP, que considera fatores como as características físicas do lugar, número de participantes, atividades desenvolvidas, papéis sociais (Ribas & Moura, 2006). Adicionalmente inclui a interação com pessoas, objetos e símbolos (Bronfenbrenner & Morris, 2006); o mesossistema representa a interação entre dois ou mais microssistemas nos quais a pessoa em desenvolvimento interage (Ribas & Moura, 2006); o exossistema - ou extensão do mesossistema – inclui ambientes dos quais a pessoa não participa diretamente, mas que neles ocorrem eventos significativos que influem nela (Ribas & Moura, 2006); e macrossistema se refere a padrões institucionais abrangentes (p. ex., crenças, ideologias, religiões, valores) em escala nacional e internacional que sustentam a cultura em que a pessoa se desenvolve (Bronfenbrenner, 1977).

O Cronossistema é constituído por três níveis: o microtempo, ou continuidades e descontinuidades, em ambientes estáveis, observadas em episódios regulares dos PP (Bronfenbrenner & Morris, 2006); o mesotempo inclui intervalos mais amplos e cujos efeitos cumulativos produzem resultados significativos para o desenvolvimento; o macrotempo, se enfoca nas mudanças de uma sociedade ao longo de gerações, considerando como esta influi e é influenciada pelos processos e resultados do desenvolvimento no curso de vida (Bronfenbrenner & Morris, 2006).

Resultados e discussão

Bronfenbrenner e Morris (2006) ao ampliar a perspectiva original do desenvolvimento, incluíram na sua definição as características biopsicologicas individuais e grupais, consideraram-no como um fenômeno que se desdobra ao longo da vida, através de gerações consecutivas e acentuaram a importância do fator tempo. Por conseguinte, a proposta do estudo do desenvolvimento humano se alicerça na interação sinérgica de quatro núcleos inter-relacionados: Processo-Pessoa-Contexto-Tempo (PPCT). Assim os enriquecimentos no modelo original de Bronfenbrenner – base conceitual do MOM – robustecem as orientações esboçadas aos profissionais da psicologia.

As duas primeiras DM abrangem a interação, influência mútua e relacionamentos entre o microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema na construção da identidade, outrossim, podem se beneficiar do conceito de Processos Proximais desenvolvido no MB que são vistos como uma espécie de motores do desenvolvimento, influindo nas múltiplas identidades sociais e culturais que se cruzam dentro da vida de um indivíduo (interseccionalidade), alteram a sua natureza (APA, 2017), e o curso de seu próprio desenvolvimento como espécie (Bronfenbrenner & Morris, 2006). Assim, a necessidade por parte dos psicólogos de reconhecer e compreender a interação dinâmica entre a identidade e a auto definição (Diretriz 1) e o fato que, como seres culturais, possuem atitudes, suposições categóricas e formulações baseadas em conhecimento limitado sobre indivíduos e comunidades que podem influenciar suas percepções e interações com os outros, e, portanto as suas conceituações clínicas e empíricas (Diretriz 2).

A terceira e quarta diretrizes, dentro do contexto da comunidade, escola e família, abordam o papel da linguagem e dos ambientes sociais e físicos na vida das pessoas (APA, 2017). Os psicólogos precisam reconhecer e compreender o papel da linguagem e da comunicação e como as pessoas trazem sua própria linguagem e comunicação nas suas interações familiares, grupais e sociais (Diretriz 3) e a importância do papel do ambiente social e físico na vida das pessoas (Diretriz 4). Neste sentido, Bronfenbrenner e Morris (2006) ampliam esta interação incluindo os símbolos, signos, instrumentos e práticas presentes no ambiente imediato como estímulos para a pessoa em desenvolvimento como mediadores, carregados de significação cultural.

Adicionalmente, o MB, ao diferenciar o microssistema (definido como um complexo conjunto de relações entre a pessoa e o ambiente imediato em que está inserida) do mesossistema (representando a interação entre dois ou mais microssistemas nos quais a pessoa em desenvolvimento interage) destaca o papel dos Processos Proximais no desenvolvimento da pessoa com base nas suas características Pessoais que têm a capacidade de afetar o curso do seu desenvolvimento futuro, e portanto, a direção e o poder dos Processos Proximais ao longo da vida.

Num seguinte nível, as diretrizes cinco e seis, interagem dentro de um contexto institucional mais amplo e sistêmico com ênfase nas maneiras pelas quais o poder, a opressão e o privilégio afetam o desenvolvimento (APA, 2017). Os psicólogos almejam reconhecer e compreender as experiências do poder, privilégio e opressão desde uma perspectiva histórica (Diretriz 5) e, destarte, procuram promover intervenções adaptáveis culturalmente (Diretriz 6).

As influências dos níveis anteriores, considerados pelas diretrizes, se refletem no quarto nível do modelo, que considera o impacto dos climas nacional e internacional nas experiências da pessoa (APA, 2017): a prática da profissão da psicologia dentro de um contexto internacional, considerando como a globalização tem um impacto na auto definição, propósito, papel e função do psicólogo (Diretriz 7) e como o psicólogo procura compreender como os estágios de desenvolvimento e transições de vida se cruzam com o contexto biocultural  influenciando a visão de mundo e identidade da pessoa (Diretriz 8). Provavelmente este ponto pode ser apurado com as reformulações feitas no MB, mudando a perspectiva de estágios de vida no desenvolvimento humano, que insinua este como sendo constituído progressivamente, de ordem invariável em etapas sequenciais e hierárquicas (de Carvalho-Barreto, 2016), por uma perspectiva de curso de vida que é um dos conceitos essenciais no MB ao considerar a experiência dentro do curso de vida como um elemento crítico no processo de desenvolvimento (Bronfenbrenner, 2011).

Finalmente as duas últimas diretrizes refletem as influências de todos os níveis do modelo na forma de resultados. De um lado as maneiras de abordar e avaliar as várias identidades dos participantes, e o impacto duradouro da desvantagem e do trauma associado sobre o que pode ser chamado de resiliência destes (APA, 2017). À medida que abordam as DM anteriores, os profissionais da psicologia implementam serviços culturalmente apropriados e informados (p. ex. pesquisas, supervisão, consulta, avaliação) (Diretriz 9) e adotam uma abordagem baseada nas fortalezas ao trabalhar com indivíduos, famílias, grupos, comunidades e organizações construindo resiliência e diminuindo o trauma dentro do contexto sociocultural  (Diretriz 10).

Considerações finais

O MOM definitivamente é um modelo robusto, contudo, sua atualização com o MB reforça ainda mais o seu objetivo de reconsiderar a diversidade e a prática multicultural dentro da psicologia profissional levando em conta a interseccionalidade. O próprio Bronfenbrenner aceitou que desde a publicação do seu MB tinha havido um grande desenvolvimento científico na área do Desenvolvimento Humano. Posto isto, Bronfenbrenner e Morris (1998), reformularam o Modelo original considerando a bidirecionalidade entre a pessoa e o ambiente em que ela se desenvolve. Nesta reformulação, os PP reforçam as características biopsicologicas da pessoa e lhe conferem um maior protagonismo diante do Contexto.

Referencias bibliográficas

 

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Suárez‐Orozco, C., & Qin, D. B. (2006). Gendered perspectives in psychology: Immigrant origin youth. International Migration Review, 40(1), 165-198.

Titzmann, P. F., & Lee, R. M. (2018). Adaptation of young immigrants. European Psychologist.

 

Anexo 1

 LISTA GERAL DE DIRETRIZES MULTICULTURAIS

American Psychological Association (2002)

Diretriz 1. Os psicólogos buscam reconhecer e compreender que a identidade e a auto definição são fluidas e complexas e que a interação entre as duas é dinâmica. Para este fim, os psicólogos apreciam que a interseccionalidade é moldada pela multiplicidade dos contextos sociais do indivíduo.

Diretriz 2. Os psicólogos aspiram a reconhecer e compreender que, como seres culturais, possuem atitudes e crenças que podem influenciar suas percepções e interações com os outros, bem como suas conceituações clínicas e empíricas. Como tal, os psicólogos se esforçam para ir além das conceituações enraizadas em suposições categóricas, preconceitos e / ou formulações baseadas em conhecimento limitado sobre indivíduos e comunidades.

Diretriz 3. Os psicólogos esforçam-se por reconhecer e compreender o papel da linguagem e da comunicação através de um envolvimento sensível à experiência vivida do indivíduo, casal, família, grupo, comunidade e / ou organizações com quem interagem. Os psicólogos também procuram entender como eles trazem sua própria linguagem e comunicação para essas interações.

Diretriz 4. Os psicólogos se esforçam para ter consciência do papel do ambiente social e físico na vida dos clientes, estudantes, participantes da pesquisa e / ou consultantes.

Diretriz 5. Os psicólogos aspiram a reconhecer e compreender experiências históricas e contemporâneas do poder, privilégio e opressão. Como tal, eles buscam abordar as barreiras institucionais e as desigualdades, desproporcionalidades e desproporcionalidades e disparidades relacionadas à aplicação da lei, administração da justiça criminal, educacional, saúde mental e outros sistemas à medida que buscam promover a justiça, os direitos humanos e o acesso à qualidade e equidade, serviços de saúde mental e comportamental.

Diretriz 6. Os psicólogos buscam promover intervenções adaptáveis culturalmente e advocacia dentro e entre os sistemas, incluindo prevenção, intervenção precoce e recuperação.

Diretriz 7. Os psicólogos se esforçam para examinar as premissas e práticas da profissão dentro de um contexto internacional, seja doméstico ou internacional, e consideram como essa globalização tem um impacto na auto definição, propósito, papel e função do psicólogo.

Diretriz 8. Os psicólogos buscam a conscientização e compreensão de como os estágios de desenvolvimento e transições de vida se cruzam com o contexto biocultural, como a identidade evolui em função de tais interseções e como essas diferentes experiências de socialização e maturação influenciam visão de mundo e identidade.

Diretriz 9. Os psicólogos se esforçam para conduzir pesquisas, ensino, supervisão, consulta, avaliação, interpretação, diagnóstico, disseminação e avaliação de eficácia culturalmente apropriados e informados, à medida que abordam os primeiros quatro níveis do Modelo Ecológico alicerçado nas Diretrizes Multiculturais.

Diretriz 10. Os psicólogos se empenham ativamente em adotar uma abordagem baseada nas fortalezas ao trabalhar com indivíduos, famílias, grupos, comunidades e organizações que buscam construir resiliência e diminuir o trauma dentro do contexto sociocultural.

 

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