PROCESSOS COGNITIVOS ATENCIONAIS DE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI: FOCO E PERSONALIDADE Descargar este archivo (06 Proceos cognitivos- FCarvalho ENkamura.pdf)

Flavio Roberto de Carvalho Santos

Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro/RJ, Brasil.

Ester Miyuki Nakamura-Palácios

Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória/ES, Brasil.

Resumo

O fenômeno atencional interessou Wundt onde destacou que o estudo da atenção e da consciência é sistêmica. Willian James, pioneiro entre pesquisadores da cognição, definiu a atenção constituída pela focalização, concentração e consciência; classificando em ativa e passiva. No final da década de 1950 e início de 1960, com estudos das ciências cognitivas, volta o interesse pelo estudo da atenção. Prestar atenção é focalizar a consciência, concentrando os processos mentais em uma tarefa principal e as demais em segundo plano. Esta ação é possível por sensibilizar seletivamente um conjunto de neurônios que executam a tarefa principal, inibindo outras e contribui na formação da personalidade. O objetivo foi avaliar a atenção de adolescentes em conflito com a lei e relacionar à personalidade. O método utilizou a Bateria Psicológica de Atenção e entrevista com adolescentes em Medida Socioeducativa do Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente de Niterói/Rio de Janeiro/Brasil. Pesquisa inscrita e aprovada na Plataforma Brasil sob o parecer nº 616.033 de  22/04/2014. Os dados foram trabalhados pela tabela do instrumento e relacionado à historia de vida. A justificativa aponta que no Brasil/2016, havia 192 mil adolescentes em Medida Sócioeducativa (Conselho Nacional de Justiça) e estes necessitam de avaliação e ciência de seu processo cognitivo atencional. O resultado dos 58 sujeitos avaliados mostra maior infração por associação ao tráfico; idade entre 12 e 19 anos; alto nível de repetência escolar e usuários de drogas psicoativas. Não há diferença no processo atencional no grupo, sendo Atenção Concentrada mais comprometida (42,9 % abaixo de média), observado na repetência escolar e baixo nível de escolaridade.  O processo atencional é operacionalizado no Córtex Pré-Frontal Dorsolateral e auxilia a memória de trabalho que juntos facilitam no aspecto educacional e afetivo da personalidade. Conclui-se que a dificuldade no foco compromete metas e reforça a impulsividade.

Palabras clave: Atenção; personalidade; adolescentes

Abstract

The attention phenomenon interested Wundt where he emphasized that the study of attention and consciousness is systemic. William James, a pioneer among cognition researchers, defined focus, focus, and awareness; classifying into active and passive. In the late 1950s and early 1960s, with studies of cognitive sciences, interest in the study of attention returned. To pay attention is to focus the awareness, concentrating the mental processes in one main task and the others in the background. This action is possible by selectively sensitizing a set of neurons that perform the main task, inhibiting others and contributing to the formation of the personality. The objective was to evaluate the attention of adolescents in conflict with the law and relate to the personality. The method used the Psychological Battery of Attention and interview with adolescents in Socio-educational Measure of the Center of Integrated Resources of Attention to Adolescents of Niterói / Rio de Janeiro / Brazil. Research inscribed and approved in the Brazil Platform under the opinion nº 616.033 of 04/22/2014. The data were worked by the instrument table and related to the life history. The justification indicates that in Brazil / 2016, there were 192 thousand adolescents in Socio-educational Measure (National Council of Justice) and these need evaluation and science of their cognitive attention process. The result of the 58 evaluated subjects shows greater infraction by association to the traffic; age between 12 and 19 years; high level of school repetition and users of psychoactive drugs. There was no difference in the attentional process in the group, with Concentrated Attention being more compromised (42.9% below average), observed in school repetition and low level of schooling. The attentional process is operationalized in the Pre-Frontal Dorsolateral Cortex and helps the working memory that together facilitate the educational and affective aspect of the personality. It is concluded that difficulty in focusing compromises goals and reinforces impulsiveness.

Keywords: Attention; personality; teenagers

Introdução

Historicamente, a partir dos primeiros estudos wundtianos, pai da psicologia científica, as pesquisas sobre a atenção se desenvolveu tendo como pressuposto que o campo de  estudo  da  atenção  e  o  campo  de  estudo  da  consciência  fazem  parte  de  um  sistema  unitário.  A consciência para WilhelmWundt (1832-1920) era o seu foco de pesquisa. Este pressuposto levou muitos autores que desenvolviam estudos sobre a atenção a considerar a consciência como seu objeto de investigação (Anderson, 2004; Matlin, 2004; Sternberg, 2000 apud Simões, 2014). Presente desde o início das investigações em psicologia e logo após sua cientificação, em 1890, Willian James definiu a atenção como sendo constituída pela focalização, concentração e consciência. Esse pioneiro funcionalista entre os pesquisadores da cognição investigou a quantidade de ideias que o indivíduo pode ter ao mesmo tempo e classificou os modos de atenção: a) ativos, quando controlados pelos objetivos ou expectativas do indivíduo e, b) passivos, quando controlados por estímulos externos (Matlin, 2004 apud Simões, 2014).

Com a forte tendência do behaviorismo, a partir de John Watson (1878-1958), entre as pesquisas no campo da Psicologia, os estudos sobre atenção e consciência foram abandonados, por fenômenos  mentais  não observáveis e imensuráveis. Apenas no final da década de 1950 e início da década de 1960, com o surgimento dos estudos nas ciências cognitivas (cognitivismo, proposto por Nesser, 1928-2012) como questionamento ao Behaviorismo, foram retomada essas  questões  e  o  interesse  dos  pesquisadores  foi  novamente direcionado  para  o  estudo  da  atenção (Anderson,  2004; Matlin, 2004; Sternberg, 2000 apud Simões, 2014), valorizando que a transformação do estímulo físico produz mais que um código neural, pois que esta transformação também resulta na criação de um código cognitivo. Um primeiro grupo de teorias sobre o tema comparou o mecanismo de atenção com um gargalo ou um filtro de informação entre todas as informações disponíveis no meio, a cada momento. Esses modelos da atenção propõem uma passagem estreita que controlaria e limitaria a quantidade de informações às quais se pode prestar atenção. A crítica recebida foi de uma subestimação sobre a flexibilidade humana da atenção. Em outro segundo grupo de teorias, conhecidas  como  teorias  modulares  ou  teorias  do  gargalo central,  comparou  o  cérebro com um computador, composto de alguns sistemas de processamento em paralelo  para os diversos sistemas perceptivos, os sistemas motores e a cognição central e que recebeu a crítica de que era excessivamente ampla e vaga.

Na atualidade, diversos estudos sobre os processos cognitivos atencionais são foco de interesse investigativo em neuropsicologia. Este fenômeno específico tem sua vinculação com os demais processos cognitivos importantes principalmente no desenvolvimento da criança e do adolescente para a aprendizagem e que se desdobra na eficiência para a vida adulta. Este artigo objetiva destacar a atenção em relação aos aspectos da personalidade em construção de adolescentes em conflito com a lei e que cumprem medida socioeducativa de liberdade assistida. Foi utilizado o instrumento de avaliação Bateria Psicológica de Atenção/BPA em seus três itens de atenção concentrada, dividida e alternada incluindo entrevista, onde os dados foram trabalhados pela tabela do instrumento e relacionado à historia de vida. Esta avaliação e entrevista faz parte da pesquisa “Conversando com seu cérebro” vinculado ao Laboratório de Ciências Cognitivas e Neuropsicofarmacologia da pós-graduação em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal do Espírito Santo. Esta pesquisa está inscrita e aprovada na Plataforma Brasil sob o parecer nº 616.033 de 22/04/2014 pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Veiga de Almeida. A justificativa ao tema aponta que no Brasil em 2016, havia 192 mil adolescentes em Medida Sócioeducativa, segundo o Conselho Nacional de Justiça. Tal fato demonstra a problemática de jovens brasileiros que necessitam de avaliação e consciência de seu processo cognitivo atencional para uma possibilidade de mudança da realidade.

Considerações gerais

A atenção é uma função cognitiva bem complexa e diversos comportamentos resultam de um nível adequado de atenção para ser bem sucedidos, como por exemplo, estar atento em uma conversa em ambiente com barulho; assistir e compreender um filme; conversar e dirigir um carro entre outras atividades do dia a dia. Prestar atenção é focalizar a consciência, concentrando os processos mentais em uma única tarefa principal e colocar as demais em segundo plano. Essa ação focalizadora só se torna possível por haver uma sensibilização seletiva de um conjunto de neurônios de regiões cerebrais que executam a tarefa principal e acabam por inibir outras. Segundo Lent (2010), há dois aspectos principais da atenção: 1 – a criação de um estado de sensibilização (alerta) e 2 – a focalização desse estado geral de sensibilização sobre certos processos mentais e neurobiológicos (atenção). Assim, há a atenção sobre estímulos sensoriais/percepção seletiva – sons, imagens, etc e, atenção mental/cognitiva seletiva – atividades mentais como cálculos, lembranças, pensamentos, etc.

A atenção é uma função que fornece base para a organização dos processos mentais, principalmente por sua ligação com a memória e aprendizagem. É foco. Ao conferir diretividade, seletividade e estabilidade aos processos mentais superiores, permite a escolha dos elementos essenciais para cada atividade, determinando assim o seu foco. Portanto, Diretividade: significa orientar a atividade de busca do estímulo; Seletividade: capacidade de concentrar o foco da atividade nos estímulos significativos e ignorar os estímulos irrelevantes e, Estabilidade: adoção de postura que facilite a recepção do estímulo e a manutenção do foco na atividade cognitiva (Gomes, 2005).

A atividade dos Processos Mentais Superiores é um processo de grande complexidade, pois o Sistema Nervoso Central está em constante função com grupos de estímulos onde deve selecionar aqueles que são relevantes para uma atividade requisitada no momento e que seja eficiente. Quanto maior o grau de atenção, maior será a qualidade organizada da atividade mental. A ideia funcional do cérebro destaca que não há estímulos isolados e áreas corticais funcionais isoladamente no processo. Todo processo cognitivo tem um caráter sistêmico e isto ratifica a ideia particular de funcionalidade cerebral. A atenção é um processo que fornece a base da atividade mental e o comprometimento da atenção produz, e revela, perturbação da cognição e que se reproduz e observa no comportamento. A organização cerebral que possibilita o processo mental da atenção entra em funcionamento e permite transformações qualitativas no modo de focar a ação ou a intensão para uma atividade, onde esta se modifica/aprimora no curso do desenvolvimento humano pela integração de novos módulos operativos (maturação neural) ao sistema existente já desde o nascimento.

O processo de desenvolvimento mais complexos da atenção no desenvolvimento humano depende da maturação e da entrada em funcionalidade de estruturas cerebrais de complexidade crescente. Os níveis de atenção vão ser determinados pelos tipos de estruturas neurais que estão funcionando em conjunto a cada momento. Para o processamento mental aos estímulos com ajuda da atenção, é preciso que o córtex esteja ativo (vigília). As formas superiores de ‘comportamento’ e de atividade cognitiva dependem de um SNC ativo, com tônus cortical alto (tensão, excitação e estresse). A fisiologia da atenção aponta como acontecem as modificações no nível de tônus cortical, ou seja, há uma relação entre tônus cortical e nível de atenção, ou seja, estreita relação: quanto mais estável o tônus cortical menos estará respondendo aos estímulos e mais linear a atenção. Quanto mais elevado o tônus cortical, mais intensa a atenção (Gomes, 2005).

A atenção, do ponto de vista do processo de desenvolvimento humano, destaca o processo de internalização da atenção, a transformação da atenção elementar em atenção superior que vai desde involuntária a voluntária, passando por instável a estável. É uma transição evolutiva que ocorre durante o neuropsicodesenvolvimento infantil. Sendo, segundo Gomes (Op. cit.):

Involuntária elementar primária: Predominância logo após o nascimento, é a atenção involuntária em que é atraída por estímulos fortes ou biologicamente importantes. É uma atenção do organismo (biológica), por determinação genética a partir da reação de concentração que é um reflexo inato de alerta. É organizada pelo Sistema Reticular, primeira unidade cerebral que modula o tônus cortical via neurônios em rede que respondem de modo inespecífico (aos estímulos de qualquer natureza). O Sistema Reticular sinaliza a presença de estímulo, sendo ativado ou inibido a partir de estímulos do mundo externo (Exterocepção) e do mundo interno (Interocepção). A formação reticular ascendente estabelece conexões com núcleos do tálamo e com o córtex cerebral e, por sua função ativadora, é um dos sistemas mais importantes para garantir a forma mais primária e inespecífica de atenção que é o  estado generalizado de vigília.

Voluntária Instável: Predomínio do Sistema Límbico sobre o Sistema reticular, onde ganha a seletividade, pois a criança consegue dirigir, selecionar a sua atividade mental, mas ainda com a presença de interferências que comprometem o foco da atenção. Neste momento, é o adulto que irá ajudar e direcionar no foco para a criança. Neste momento de desenvolvimento da atenção, com o auxilio da nomeação ou do apontar, principalmente no primeiro ano de vida, é que será auxiliado pelo recurso do desenvolvimento da fala. Este período de desenvolvimento da atenção vai até aproximadamente até 2 anos e 6 meses.

Voluntária estável: O funcionamento maturacional ótimo das zonas frontais é essencial para a atenção voluntária estável. São os lobos frontais os responsáveis pelas formas superiores de atenção por inibir respostas impulsivas (Controle inibitório) em relação a estímulos irrelevantes; por modular o tônus cortical a partir da atividade induzida por uma instrução verbal; por preservar o comportamento dirigido a metas, sendo então seletivo e programado. Até a plena maturação do Sistema Nervoso Central para a funcionalidade, este sistema opera com formas de atenção que ainda é fácil ser perturbado por estímulo irrelevantes e que não se beneficiam do auxilio verbal.

A atenção involuntária origina a voluntária, onde a atenção involuntária ocorre por intensos estímulos e a voluntária é ‘despertada’ por estímulos direcionados como pela aprendizagem, o social, os gestos, as palavras etc. Assim, a atenção é um processo maturacional e de desenvolvimento de capacidade além de ser organizada como resultado de interações orientadas socialmente, por isso é o adulto/professor que tem papel importante neste processo. A criança ao falar e apontar expressa sua dificuldade/facilidade e faz com que o outro a auxilie em sua necessidade corretiva/instrutiva.

As inúmeras conexões entre os Lobos Frontais, o Sistema Límbico e o Sistema Reticular, por meio da formação reticular descendente, possibilitam que as porções mediais e superiores do cérebro exerçam uma função reguladora sobre o tônus cortical, desempenhando papel decisivo no processo de aumentar o nível geral de atividade de fundo a partir de programas /planos / intenções / que ativam o Sistema Reticular. O sistema cerebral ao se deparar com um estímulo (concreto ou simbólico), este estimulo é sinalizado pela Formação Reticular apenas quanto à sua existência. As zonas mediais são ativadas a seguir para determinar se o estímulo é novo ou antigo e se será selecionado para dirigir ou não a atenção ativa. Os estímulos antigos, buscados na memória, irão ativar zonas mediais a partir de ação de armazenamento. Os estímulos novos irão ativar as regiões frontais para processamento e síntese aferente e construir o programa de ação adequado. Em todo processo de neuropsicodesenvolvimento, a criança aprende a controlar as alterações do foco atencional produzidas pelos estímulos interferentes, até que consegue manter o curso de sua atividade mental independentemente dos estímulos que a perturbam.

Segundo Gomes (2005) a organização cerebral da atenção está dividida em:

Do ponto de vista cronológico em relação ao processo cognitivo da atenção, entre 3 e 4 anos de idade, a criança já tem a capacidade de se dar uma ordem verbal e orientar sua atenção e seu comportamento a partir desta ordem. Entre 4 anos e 6 meses a 5 anos de idade, pela maturação das regiões frontais, a atenção voluntária começa ter mais estabilidade e consegue obedecer a uma instrução verbal, sendo capaz de manter por alguns minutos a direção do curso da atividade mental. A partir dos 7 anos de idade, observa-se a  atenção voluntária com caráter de maior estabilidade, sendo capaz de minimizar os estímulos competidores de moderada intensidade e manter o foco de atenção na atividade que realiza por cada vez mais tempo. Após os 7 anos de idade é que a atenção voluntária estável se estabelece e torna organizada, atingindo completa capacidade por volta dos 12 anos de idade, quando se aproxima do ciclo maturativo das funções neurais. Esta ultima forma de atenção é caracterizada pela existência de mudanças claras e duradouras nos potenciais evocados (PE) nas áreas sensoriais do córtex que se conjugam com potenciais das zonas frontais, que passam a desempenhar uma função importante nas formas complexas de atenção superior voluntária, resistente a fatores competidores de grande intensidade (Gomes, 2005).

A atenção tem função primordial cotidiana, pois as atividades mentais ocorrem no contexto de ambientes repletos de muitos estímulos diversificados, que são relevantes ou não e que ocorrem de modo ininterrupto. Assim, viver exigem atenção que vai desde uma forma simples à mais complexa. Os diversos estímulos que atingem os órgãos sensoriais precisam ser selecionados conforme o objetivo pretendido de cada um mediante uma tarefa ou proposta, seja consciente ou não. Diversas funções cognitivas dependem intensamente da atenção, em especial a memória. Uma das características da atenção é a dependência do interesse e da necessidade (motivação) em relação à tarefa em questão. Tarefas que atinjam centros encefálicos relacionados ao prazer (Sistema de recompensa) mais facilmente mantém o foco  (Coutinho; Mattos & Abreu, 2010).

A atenção é um processo cognitivo que permite controlar a atividade nervosa relacionada a eventos externos e/ou internos, de modo a selecionar aspectos que receberão processamento prioritário. Esses processos podem incluir a intensificação da atividade nervosa em circuitos relacionados a informações sensoriais presentes e/ou esperadas, a manutenção e/ou o resgate de informações estocadas na memória e ações ou planos motores. O desenvolvimento dessa habilidade de controlar a atividade nervosa depende da história de interação do organismo com o ambiente (Xavier, 2015). Como destacado, a atenção também é um pré-requisito fundamental para o processo de memorização. O conceito de atenção é definido pela seleção e manutenção de um foco, seja de um estímulo ou informação, entre as inúmeras que se obtém pelos sentidos, memórias armazenadas e outros processos cognitivos. Em outras palavras, se dirige a atenção para o estímulo que se julga ser importante em um dado momento. Os outros estímulos que não os principais, passam a fazer parte do “fundo” não sendo mais os focos na atenção.

Os problemas de concentração podem ser resultantes de um distúrbio atencional simples, ou a uma inabilidade (falta de estimulação no desenvolvimento) de manter o foco de atenção intencional, ou até aos dois problemas ao mesmo tempo. No nível seguinte de complexidade, está o rastreamento mental que também é afetado por dificuldades atencionais. A preservação da atenção é um pré-requisito para atividades que requeriam, tanto concentração, como rastreamento mental. A habilidade de manter a própria atenção focada em um conteúdo mental fica diminuída, ou seja, pode-se ter dificuldade para se manter uma sequência de pensamentos simples, o que invariavelmente compromete a habilidade de solução de problemas (pensamento) simples e mais complexos, onde no proceso de desenvolvimento pode comprometer também a construção da personalidade.

Os processos atencionais estão associados às funções executivas e não são unitários e, do ponto de vista didático, podem ser classificados em pelo menos 3 tipos: Atenção Concentrada que é um estado de prontidão para identificar e responder a estímulos por período prolongado de tempo e fornece uma informação que se refere a atenção sustentada, indica a capacidade de uma pessoa em selecionar apenas uma fonte de informação diante de vários estímulos distratores em um tempo predeterminado. Atenção Dividida que fornece a informação que indica a capacidade para procurar dois ou mais estímulos simultaneamente em um tempo predeterminado e com vários distratores ao redor. Atenção Alternada que envolve a capacidade de atender duas ou mais fontes de estímulos alternadamente e fornece uma informação que se refere a capacidade em focar a atenção e selecionar ora um estimulo, ora outro, por um determinado período de  tempo e diante de vários estímulos distratores. Estes são avaliados pela Bateria Psicológica de Atenção/BPA (Rueda, 2013).

Segundo Goleman e Senge (2016) ao abordar o processo da atenção, apontam três aspectos importantes para o bom resultado no desenvolvimento para a vida. Destacam os autores que os processos atencionais para educação envolvem o EU que é o foco de atenção a si mesmo para aspirações propositivas; o OUTRO que é o foco na empatia para compreender a realidade alheia nas relações sociais e, o MUNDO, que é o foco sobre os sistemas do mundo para a relação e concretização na causalidade e no planejamento para a vida. Tais características apontam um aglomerado de fatores que compõem aspectos para a personalidade, pois há o EU no rol desta construção. Um sujeito sem foco em si, no outro e no mundo é a expressão do ser perdido em si em um espaço, tornando-se impulsivo e não construtivo, vivendo fracassos acadêmicos que não trarão possibilidades de atuação profissional futura.

Em reflexão sobre a relação do proceso cognitivo atencional com a personalidade, estes adolescentes apresentam características que sugerem pertencer aos Estados Limítrofes, onde cognitivamente, há desordens perceptivas nas relações em que a interpretação sobre o comportamento do outro é sentida como abandono, rejeição e falta de provas objetivas. Assim, tende a valorizar o negativo vinculado às relações ou pessoas. A perturbação cognitiva da identidade faz com que não se perceba/compreenda como um ser positivo (Goodman e col. 2013 apud Auffred, 2015). As ideias paranóicas presentes faz com que o mundo seja visto como para não se entregar ao afeto nem às relações. A impulsividade (oposto ao foco) permeia as relações com o mundo onde há uma passagem ao ato com autopunição até tentativa de suicídio; condutas de riscos como tatuagens exageradas, condutas sexuais extrapoladas e uso de drogas e, também de outra forma, com conduta de dependência que se verifica em relação ao uso de drogas psicoativas ou problemas alimentares ou, também jogo patológico ou ataques compulsivos. As relações interpessoais vão desde o máximo afeto do tipo fusional até a rejeição (Auffred, 2015).

O interesse por estudos de casos limítrofes (também chamado de Transtorno Borderline) entre adolescentes é recente, descritos por volta de 1958, segundo Guelfi e col (2011 apud Auffred, 2015). Uma das descrições sobre transtorno de personalidade limítrofe foi feita por Masterson (1978, apud Auffred, 2015), que entendia o transtorno como um acúmulo de fato vivido na infância inicial por sentimento muito intenso de abandono, com uma dificuldade de separação da figura materna e uma falha progressiva nas diferentes etapas do processo de separação-individuação até a aquisição da autonomia. No aspecto geral, os casos de personalidade pertencentes aos Estados Limítrofes entre adolescentes refletem um sofrimento de péssimo funcionamento de significativos com consequências potencialmente dramáticas como suicídio, uso e abuso de drogas psicoativas, se colocar em perigos, problemas de identidade, baixo rendimento escolar, exclusão social ou marginalização. Estes sintomas criam uma estigmatização pejorativa e denunciam a necessidade de intervenção tão logo apareçam os sintomas para não serem vistos apenas como algo de “rebeldia”.  A falta de intervenção adequada e correta em psiquiatria, psicologia, orientação familiar e de uma escola acolhedora e construtora de identidade (foco) pode fazer com que tais sintomas se fixem para a vida adulta, segundo Auffred (2015).

Neurofisiologicamente, há uma onda neural chamada P300 que se destaca por ser uma onda positiva que surge quando a pessoa detecta um estimulo esperado ou imprevisto e representa uma modificação da atividade da rede neuronal em relação a uma operação cognitiva. A latência (tempo) desta onda dá uma indicação indireta sobre a duração das operações cognitivas, pois representa a adaptação da memória de trabalho aos estímulos do ambiente (atenção) e no processo de fechamento de tratamento de informações (Hansenne, 2000 apud Auffred, 2015). Tal onda é modificada em um grande numero de patologia psiquiátricas como a esquizofrenia, o alcoolismo, a depressão e as dimensões clínicas da impulsividade. A onda P300 é uma onda cognitiva, é uma onda das variáveis neurofisiológicas mais importantes, pois depende dos processos cognitivos de discriminação e, portanto, do processamento das informações (Maurer e Dierks, 1997).

Um aspecto relevante e destacado por Rodriguez (2015) aponta que é imprescindível que o sujeito preste atenção para que o cérebro responda aos estímulos dados e, caso não haja atenção, a onda P300 não aparece.  Tal fato dos potenciais evocados são respostas elétricas do cérebro como resposta a captação de um estímulo. O potencial elétrico registrado é uma sequência de ondas ligadas temporalmente ao estimulo eliciador que desencadeia uma latência, amplitude e polaridade específica. O potencial evocado supõe uma modificação do potencial elétrico no sistema nervoso que é produzido em resposta a um estimulo externo (auditivo, visual, mecânico ou elétrico), ou a um evento interno pela atividade cognitiva (atenção e preparação motora). Tais potenciais evocados podem ser detectados pelo Eletroencefalograma (EEG). O mesmo autor (Op. Cit.) cita ainda, com relação ao órgão sensorial estimulado, os Potenciais Evocados Visuais (PEV), Potenciais Evocados Auditivos (PEA), Potenciais Evocados Somatosensoriais (PESS) e Potenciais Evocados Motores. De outro modo, estão os Potenciais Relacionados com Eventos (ERP) e entre eles os Potenciais Evocados Cognitivos P300. Ressalta-se que o sinal elétrico P300 está fora  do  controle consciente, fato que é importante para o estudo de casos dos adolescentes em conflito com a lei.

Muñoz; Navas e Fernandes-Guinea (2003), assinalaram diferenças no P300 com psicopatas (que também estão incluídos entre a classificação dos Estados Limítrofes) e não psicopatas e, destacaram, também, diferenças nos registros de Potecnail Evocado em adolescentes com comportamentos comprometidos socialmente. Para Kiehl, Hare, Liddle et all (1999 apud Muños, Navas e Fernandes-Guinea, 2003) estes apresentaram uma menor amplitude no P300 frente ao estímulo alvo.  Um estudo anterior de Raine e Venables (1988 apud Muñoz, Navas e Fernandes-Guinea, 2003) com adolescentes antissociais, encontrou um incremento na amplitude do P300 com o estimulo alvo no lóbulo parietal e não no temporal. Sem dúvida, relacionaram a redução da amplitude do P300 com uma história familiar de alcoolismo e transtorno de personalidade antissocial na colocação de O’connor, Bauer, Tasman e Hesselbrock (1994 apud Op.Cit, 2003).

Os adolescentes identificados neste traço de personalidade necessitam de uma imensa afetividade e se apresentam como sedutores, tendo fragilidade para suportar/superar frustrações. Há uma luta sem fim contra a depressividade que os obrigam a uma forma incessante para se colocarem a todo o momento disponíveis e adaptáveis, faltando as reais condições para ser adequados e adaptados (Pellet, 2004). Tal fato os coloca como vulneráveis aos grupos de risco para drogas, pois valorizam mais os aspectos de fora do que os valores e sentimentos internos por haver uma fragilidade do eu e, por isso, projetam a agressividade com consequência da falta da atenção entre o ideal e o eu. Há aqui o destaque do fator atenção para o discernimento afetivo. Há uma oscilação entre valorizar seus sentimentos e pessoas como posse que é uma forma defensiva idealizada em função da dependência com o objetivo de minimizar seus sentimentos internos negativos e, de outra forma, desvalorizam também por uma cólera onipotente quando não se sentem mais satisfeitos ou protegidos, pois o amor dito não é real.

Segundo Pellet (2004) as pessoas limítrofes vivem uma relação de objeto de ‘amor’ de modo instável, precário ou difícil de estabelecer. As fronteiras entre o mundo interior e o mundo exterior é muito frágil ou quase não existe. Como há uma falta, resulta com que sinta o “desaparecimento” no aspecto afetivo, o que significa que não há significado para ser dado à ausência. Não consegue fazer uma construção da fantasia que liga a dor de perder a uma representação que permita a elaboração e, por isso, não elabora a depressão e resulta no ódio. Ainda na colocação de Pellet (Op. Cit.), entre os sujeitos limítrofes, as reações e manifestações de ódio verbais e comportamentais por fantasias são intensas e explosivas. Este ódio se desdobra em condutas autodestrutivas de violência a melancolia, dependência e ligação com incapacidade de se separar de pessoas eleitas como ‘importante’ para ela. Tais características sugerem semelhança com os adolescentes atendidos e apontam para o fator atenção genuínas sobre si mesmo em seu desenvolvimento.

Resultados

Os dados apontam que entre os 58 sujeitos entrevistados e avaliados pela BPA, destaca que a maioria deles (70 %) está em Medida Sócioeducativa pela infração de associação ao tráfico. Na unidade onde a pesquisa foi realizada, no ano de 2016, passaram 251 adolescentes pelo Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente (CRIAAD) de Niterói/RJ/Brasil e, deste total, 120 adolescentes são reincidentes ao sistema de Medida Socioeducativa. Dentre os adolescentes avaliados na amostra, 27,5% são reincidente no sistema de Medida Sócioeducativa, tendo idade entre 12 e 19 anos. A repetência escolar demonstra um alto nível (90%) e todos oriundos de escola pública. Outro fator importante e comprometedor é o uso de drogas psicoativas como cannabis principalmente, onde todos eles o fazem com frequência. O uso de cannabis tem sua repercussão negativa nos processos atencionais e na memoria de curto prazo. Em todo o grupo se observou que não há diferença no processo atencional entre os membros em relação ao tipo de infração, sendo a Atenção Concentrada/AC mais comprometida (42,9 % abaixo de média) que é um fator importante para a função de aprendizagem e memória de trabalho. Quanto a Atenção Dividida e Alternada, há um melhor rendimento entre eles, fato que talvez possa ser justificado pela atividade no tráfico onde a estimulação de vigília é muito utilizada e que não é tão importante no processo acadêmico formal. Este fato pode ser observado como consequência no alto índice de repetência escolar e o baixo nível de escolaridade, que pode ser entendida como uma dificuldade da atenção voluntária estável.  O processo atencional é operacionalizado no Córtex Pré-Frontal Dorsolateral (CPFDL) e auxilia a memória de trabalho que juntos facilitam no aspecto educacional e afetivo da personalidade, pois é um foco a si mesmo e aos estímulos externos. Da mesma forma em que reagem atencionalmente com dificuldade construtiva aos estímulos externos, também reagem com dificuldade de atenção a si próprios e acarretam no comportamento impulsivo e imediatista, ou seja, são reativos. A atenção coerente deve proporcionar o reconhecimento do que é importante e o caminho a ser realizado para corresponder adequadamente ao mundo em relação ao seu espaço em construção, ao seu tempo real e à sua cultura que são aspectos para a personalidade.

Conclusão

Conclui-se que a dificuldade de foco compromete metas de vida e para a vida além de contribuir para impulsividade. O processo mental superior (processo cognitivo) da atenção é um fator que implica a emoção e também a motivação em via de mão dupla. Observa-se nestes adolescentes com dificuldades atencionais que também ha dificuldade em outros processos como da aprendizagem para atingir a plena cognição. Tal fato gera uma gama de experiências reais de insucesso onde a única percepção é o imediatismo com uma impossibilidade de reflexão por ter pouco foco em seu processo de vida. Isto parece resultar nos comportamentos de risco por associação ao tráfico de drogas e pelo resultado negativo do uso de drogas psicotrópicas que compensa o sistema dopaminérgico dado sua realidade de angústia limítrofe (perda de objeto). A proposta para esta faceta observada na realidade destes jovens é que o seu acompanhamento deve ser pautado em neuropsicossocioeducação em que além do acompanhamento profissional específico também seja avaliado a necessidade medicamentosa (neurológica e/ou psiquiátrica) como coadjuvante para uma tentativa de mudança futura. Assim, o desafio de trabalhar com adolescentes em conflito com a lei no aspecto atencional parece envolver demais especialidades, pois o fenômeno personalidade é um somatório da vida que resulta no fato ocorrido entre eles: a infração com história de comprometimento escolar e psicopatológico de personalidade. Na atualidade desta pesquisa, ainda está em investigação a onda P 300 captada pelo Eletroencefalograma (EEG) que é um registro neurofisiológico de uma onda positiva que pode auxiliar no entendimento sobre os processos cognitivos de adolescentes em conflito com a lei. Deste modo, se espera associar à avaliação neuropsicológica para intervenções mais adequadas a esta realidade. Assim, futuras apresentações com estes instrumentos de investigação será um fato a contribuir sobre o fenômeno.

Referências

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