Angela Maria Pires Caniato

Resumo

Este é o artigo “Uma Pesquisa Participante: o Projeto PHENIX a partir de 2008” que corresponde às intervenções do projeto de Pesquisa Intervenção “PHENIX: A Ousadia do Renascimento do Indivíduo-Sujeito – FASE II”, vinculado à Universidade Estadual de Maringá (UEM) e que se constitui num Grupo de Pesquisa credenciado pelo CNPq. Enquanto projeto de Pesquisa Intervenção pressupõe a práxis como o lócus da produção do conhecimento e critério de verdade. A população com a qual interagimos é integrada por adolescentes pauperizados de um Colégio Estadual da Rede Pública de Ensino que fica na periferia da cidade de Maringá/PR/Brasil. A nossa inserção neste agrupamento de adolescentes está sustentada na premissa-denúncia de Martín-Baró de que vivemos sobre o “império da desvalorização da vida humana”, forjado pelo autoritarismo socioeconômico do capitalismo e da sociedade de consumo de massas por ele engendrada. Seus reflexos excludentes são escamoteados pelos discursos demagógicos e ideológicos dos regimes políticos, ditos democráticos, da contemporaneidade. Partimos dos ensinamentos de Theodor Adorno em A Personalidade Autoritária de que tendências preconceituosas, nem sempre conscientizadas pelos indivíduos, dão sustentação subjetiva a formas de organização social conduzentes à barbárie. Trilhando pelos estudos de Adorno, em especial agrupados em suas obras “Dialética do Esclarecimento...” e “Educação e Emancipação...”, passamos a interagir com esses adolescentes atravessando com eles o sofrimento psicossocial que vivenciam, decorrente da banalização da violência e da injustiça social marcadas pelo fatalismo e pela alienação psicossocial. Interagimos semanalmente com estes adolescentes e discutimos com eles as questões-demandas, vinculadas a sua situação de excluídos. Estas questões são estudadas pelos integrantes do PHENIX numa perspectiva psicossocial, sendo consideradas as condições concretas de vida daqueles indivíduos e são retomadas nas intervenções com os adolescentes. A preparação teórico-metodológica dos acadêmicos e mestrandos que integram o PHENIX constituem outro objetivo desta pesquisa. Constatamos nesta convivência com estes adolescentes a sua imersão nos valores da sociedade de massa e até certa resistência em admitir e querer mudar essa simbiose. Eles sofrem a violência dos estereótipos e preconceitos internalizados que passam a constituir suas “identidades”, tornando-se cúmplices dessas injunções sociais perversas. Trabalhando com eles as suas questões demandas, pretendemos ajudá-los a reconstruir suas identidades e favorecer a construção de laços solidários entre eles, questionando/analisando os efeitos perversos que a indústria cultural (Theodor Adorno) introduz em suas vidas. Como a “consciência do povo daqui é o medo dos homens de lá...”, é somente a partir do desenvolvimento da consciência crítica, principalmente, das denominadas “populações de risco” que haverá a ação transformadora da realidade psicossocial. A FASE I deste Projeto começou no ano 2000 e foi finalizada em março de 2007 e era efetivada numa Instituição Educacional Pública/Instituição Assistencial Filantrópica que albergava adolescentes pobres. Inicialmente este Projeto de Pesquisa Intervenção tinha como título “PHENIX: A Ousadia do Renascimento da Subjetividade Cidadã” que foi modificado para o nome atual depois que nossos estudos evidenciaram que inexiste a cidadania na sociedade contemporânea.

Palavras Chaves: Pesquisa intervenção, psicanálise, indústria cultural, preconceito, pensamento crítico, educação emancipatória.

 

Resumen

Este es el artículo “Una investigación Participante: el Proyecto PHENIX a partir de 2008” que corresponde a las intervenciones del proyecto de Investigación-Intervención “PHENIX: La Osadía del Renacimiento del Individuo-Sujeto – FASE II”, vinculado a la Universidad Estadual de Maringá (UEM) y que se constituye en un Grupo de Investigación acreditado por CNPq. En cuanto proyecto de Investigación-Intervención presupone la praxis como el locus de la producción del conocimiento y criterio de verdad. Los sujetos con los cuales interaccionamos son integrados por adolescentes pauperizados de un Colegio Estadual de la Red Pública de Enseñanza que está ubicado en la perifería de la ciudad de Maringá/PR/Brasil. Nuestra inserción en este agrupamiento humano está sostenida en la premisa-denuncia de Martín-Baró de que vivimos sobre el “imperio de la desvalorización de la vida humana”, moldeado por el autoritarismo socioeconómico del capitalismo y de la sociedad de consumo de masas por él acuñada. Sus reflexiones excluyentes son escamoteadas por los discursos demagógicos e ideológicos de los regímenes políticos, dichos democráticos, de la actualidad. Partimos de las enseñanzas de Theodor Adorno en La Personalidad Autoritaria de que tendencias prejuiciosas, ni siempre concienciadas por los individuos, dan confirmación subjetiva a formas de organización social conducentes a la barbarie. Recorriendo por los estudios de Adorno, en especial los agrupados en sus obras “Dialéctica de la Ilustración...” y “Educación y Emancipación...”, pasamos a interaccionar con estos adolescentes superando con ellos el sufrimiento psicosocial que vivieron, decurrente de la banalización de la violencia y de la injusticia social señaladas por el fatalismo y por la alienación psicosocial. Interaccionamos semanalmente con estos adolescentes y discutimos con ellos las cuestiones-demanda, vinculadas a su situación de excluidos. Estas cuestiones son estudiadas por los integrantes del PHENIX en una perspectiva psicosocial, siendo consideradas las condiciones concretas de vida de aquellos individuos y son retomadas en las intervenciones con los adolescentes. La preparación teórico-metodológica de los académicos y los alumnos de maestría que integran el PHENIX constituyen otro objetivo de esta investigación. Constatamos en esta convivencia con estos adolescentes su inmersión en los valores de la sociedad de masa y hasta una cierta resistencia en admitir y querer modificar esa simbiosis. Ellos sufren la violencia de los estereotipos y prejuicios internalizados que pasan a constituir sus “identidades”, volviéndoles cómplices de estas imposiciones sociales perversas. Trabajando con ellos sus cuestiones demandadas, pretendemos ayudarles a reconstruir sus identidades y favorecer la construcción de lazos solidarios entre ellos, cuestionando/ analizando los efectos perversos que la industria cultural (Theodor Adorno) introduce en sus vidas. Como la “consciencia de la población de aquí es el miedo de los hombres de allá...”, es solo a partir del desarrollo de la consciencia crítica, principalmente, de las denominadas “poblaciones de riesgo” que habrá la acción transformadora de la realidad psicosocial. LA FASE I de este Proyecto empezó en el año de 2000, fue finalizada en marzo de 2007 y era realizada en una Institución Educacional Pública/Institución Asistencial Filantrópica que amparaba a adolescentes pobres. Inicialmente este Proyecto de Investigación Intervención tenía como título “PHENIX: La Osadía del Renacimiento de la Subjetividad Ciudadana” que fue modificado para el nombre actual después que nuestros estudios evidenciaron que no existe la ciudadanía en la sociedad contemporánea.

Palabras clave: Investigación-Intervención, psicoanálisis, industria cultural, prejuicio, Pensamiento crítico, educación emancipadora.

 

Abstract

This is the article "A Participant research: the PHENIX project from 2008" which corresponds to the project interventions Research-Intervention "PHENIX: The Daring Renaissance Guy-Subject - PHASE II", linked to the State University of Maringá (UEM) and becomes a Research Group accredited by CNPq. As research project-intervention presupposes praxis as the locus of knowledge production and criterion of truth. Subjects with whom we interact are composed of an impoverished teenagers State College of Public Education Network which is located on the outskirts of the city of Maringá / PR / Brazil. Our inclusion in this human group is supported on the premise-Martin-Baró complaint that live on the "rule of devaluation of human life", shaped by the socio-economic authoritarianism of capitalism and mass consumption society for him coined. Its exclusive reflections are whisked away by demagogic and ideological discourses of political regimes, such democratic today. We start from the teachings of Theodor Adorno The Authoritarian Personality that biased trends, not always socially aware by individuals, give opinion conducive to forms of social organization barbarism confirmation. Walking by Adorno studies, especially those grouped in his works "Dialectic of Enlightenment ..." and "Education and Emancipation ...", had to interact with these teenagers beating them psychosocial distress who lived, as a consequence of the trivialization of violence and social injustice identified by fatalism and psychosocial alienation. We interact weekly with these teens and discuss with them the questions and demand, linked to their situation excluded. These issues are studied by members of the PHENIX in a psychosocial perspective, being considered the concrete conditions of life of individuals and are taken up in interventions with adolescents. The theoretical and methodological training of scholars and masters students who make up the PHENIX is another objective of this research. We note in this contact with adolescents immersion in the values of mass society and even some resistance to admit and want to modify this symbiosis. They suffer violence internalized stereotypes and prejudices that happen to be their "identities" He has made them complicit in these perverse social impositions. Working with them their demand issues, we intend to help them rebuild their identities and favor the construction of solidarity ties between them, questioning / analyzing the perverse effects that cultural industries (Theodor Adorno) enters their lives. As the "consciousness of the population here is the fear of men over there ...", it is only through the development of criticism, mainly consciousness of so-called "risk groups" to be transformative action psychosocial reality. PHASE I of this project began in 2000, was completed in March 2007 and was conducted in an Educational Institution Public / Healthcare Institution amparaba Philanthropic that poor adolescents. Initially this Intervention Research Project was entitled "PHENIX: The Daring Renaissance Subjectivity Citizen" was modified to its present name after our studies showed that there is no citizenship in contemporary society.

Keywords: Research-Intervention, psychoanalysis, cultural industry, prejudice, critical thinking, emancipatory education.

O Projeto “PHENIX: A Ousadia do Renascimento do Indivíduo-Sujeito - FASE II”foi o nome com que nossa Pesquisa Intervenção foi re-titulada por termos constatado, em nossos estudos do conceito de cidadania e da obra da Teoria Crítica de Theodor Adorno, que inexiste a cidadania numa sociedade estruturada sob a manipulação da indústria cultural.

Neste período nosso projeto de pesquisa foi também indicado pela Pró Reitoria de Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá para ser recomendado como Grupo de Pesquisa a estar Credenciado no CNPq.

Durante estes oito anos, conduzimos nossas intervenções no Instituição Educacional Pública/ Instituição Assistencial Filantrópica, que alberga os grupos de adolescentes pauperizados da periferia de Maringá, com os quais convivemos, desenvolvendo nesse período vários estudos teórico-práticos.

Atualmente não estamos mais atuando nesta instituição assistencialista, pois o bairro em que ela está instalada vem passando por especulação imobiliária e tornando-se um bairro de classe média da cidade de Maringá. Os adolescentes pauperizados que frequentavam esta Instituição foram sumindo, sendo expulsos para além dos limites urbanos mais longínquos da cidade, certamente.

A partir de 2009 estamos realizando nossas intervenções numa Escola Pública da Rede Estadual de Ensino, continuando a interagir com adolescentes pauperizados da periferia da cidade de Maringá, que frequentam a escola nos horários matutino e noturno.

Está colocado a seguir o replanejamento que tivemos de fazer em 2008, o qual demonstra mais claramente a linha teórico-política que embasa nossas intenções de contribuir para o desenvolvimento da consciência crítica de adolescentes pauperizados sob o esteio orientador de uma educação emancipatória.

O projeto “PHENIX: A Ousadia do Renascimento do Indivíduo-Sujeito - FASE II” é uma pesquisa-intervenção vinculada a Universidade Estadual de Maringá (UEM), coordenado pelas Profª Dra. Angela Maria Pires Caniato e Profª Dra.Regina Perez Christofolli Abeche. Seu desenvolvimento se constitui a partir da práxis e tem por orientação epistemológica a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, principalmente a obra de Theodor Adorno. O “PHENIX:...” é uma pesquisa qualitativa (González Rey, 2005) que se efetiva por meio de uma práxis semanal e da parceria entre a UEM e esta Instituição Assistencial que, até dezembro de 2008, viabilizou nossas atividades nesta instituição. Atualmente é integrado por 18 (dezoito) acadêmicos do primeiro ao quinto ano do Curso de Psicologia e 06 (seis) mestrandos do Programa de Pós Graduação em Psicologia da UEM. Realiza intervenções semanais e atividades educativo/culturais com a população pauperizada de uma Escola Pública na periferia da cidade de Maringá/ Paraná.

O Projeto “PHENIX:...” se desenvolve em dois momentos, a saber: a prática que consiste na atuação junto a adolescentes por meio de reuniões semanais com três grupos, nas quais são levantadas as questões demandas a serem discutidas nos encontros posteriores; a segunda etapa se faz pela preparação teórico-metodológica dos acadêmicos e mestrandos participantes do Projeto “PHENIX:...”, com o objetivo de fundamentar as discussões que constituem a parte prática junto aos adolescentes. Tal preparação se efetiva por meio de três grupos de estudo, a saber: 1) pesquisa bibliográfica e orientação em grupo dos temas vinculados às questões demandas; 2) leitura sistemática da obra de Freud à luz dos pressupostos da Teoria Crítica de Theodor Adorno e 3) estudos dirigidos com os acadêmicos e mestrandos dos principais conceitos da obra de Theodor Adorno.

A utopia, que é o fio condutor da nossa práxis (Carone, 2003), é a esperança que a lenda da ave phenix possa ser atualizada com esta população por meio das discussões que realizamos com os adolescentes. O desejo de cada participante é de que, nesse deserto em que vivemos, sejamos como folhas aromatizantes ao redor de cada indivíduo que se sinta sucumbindo e, à luz da reflexão, possamos aquecer e consumir a apatia causada pelo fatalismo (Martin-Baró, 1987), para que seja possível o renascimento do indivíduo sujeito.

Este projeto existe desde outubro de 2000, quando fui convidada a desenvolver um trabalho pontual numa Instituição Educacional Pública, depois Instituição Assistencial Filantrópica, que posteriormente se institucionalizou, ampliando e se estruturando nos moldes dessa Pesquisa Intervenção “PHENIX: A Ousadia do Renascimento da Subjetividade Cidadã”. Essa proposta de pesquisa constitui-se no segundo momento da práxis que vinha sendo desenvolvida na Instituição Assistencial e intitula-se “PHENIX: A Ousadia do Renascimento do Indivíduo-Sujeito – FASE II”.

Nossa perspectiva política fundamenta-se na constatação de que as classes sociais pauperizadas estão vivendo sob exclusão psicossocial, expostas à ações marginalizadoras e de controle social em sua vida pública e privada. Além disso, essa população vem sendo considerada “população de risco”, por serem interpretadas como ameaçadoras para o status quo dominante (Caniato, 2003) e sua exposição às “categorias de acusação” (Velho, 1987) e às injúrias do “mito das classes perigosas” (Coimbra, 2001) que torna tais indivíduos vulneráveis ao desenvolvimento do “sentimento de culpabilidade” pela internalização dessa violência social (Freud, 1981). Sob esta autopunição, estes adolescentes estão impedidos de identificar a violência social que os maltrata e, consequentemente, os impossibilita de desenvolver certa criticidade com relação a si e às condições opressoras em que vivem, tornando-se cúmplices desta opressão social. Transformam-se em presas fáceis dessas padronizações estereotipadas produzidas pela sociedade capitalista contemporânea (Adorno, 1986a). Ainda, mais grave, é que estes adolescentes acabam por justificar tais estereotipias, ao entrarem numa vida de exposição a perigos que muitas vezes culmina em atos “heróicos”, o que os leva a tornarem-se presas fáceis das ações repressivas da Polícia. É importante identificar que esta “criminalização” (Ianni,1981) está escamoteada pelos discursos demagógicos e ideológicos dos regimes políticos ditos democráticos e de “bem estar social” da contemporaneidade.

Para efetivar nosso objetivo, buscamos desenvolver junto aos adolescentes um pensamento reflexivo, pautado numa crítica imanente, a fim de que esses jovens, que vivem em condições sociais adversas, possam se tornar agentes transformadores da realidade social. São propostas que Adorno (1995) designa como “Educação Emancipatória”.

Por outro lado, a Pesquisa Participante exige o engajamento sócio-político do pesquisador e da população participante. O desenvolvimento desse método ocorre por meio da relação dialética entre o pesquisador (acadêmicos da UEM) e o grupo de pesquisa (adolescentes pauperizados), promovendo uma permanente e contínua relação de trocas reflexivas sobre a realidade vivida pelos sujeitos alvo deste processo. Atingir uma relação de troca é um dos fundamentos exigidos por este método de pesquisa, o que significa a manutenção de uma relação de troca para assim ficar explicitado o vínculo de compromisso entre os dois grupos. Desta forma, o problema a ser estudado deve surgir das indagações feitas pela própria população na relação de confiabilidade com o pesquisador. Sabidamente, este tipo de vínculo só ocorre quando há uma constância de trocas afetivo-intelectuais entre os integrantes dos grupos. Na análise crítica que a população vai fazendo de sua realidade, os pesquisadores vão dando feedbacks que auxiliem os pesquisados a organizarem suas ideias durante todo o processo de investigação. Caminhando nessa direção, por meio de todos os temas discutidos, procuramos fazer uma análise das contradições da sociedade que se exprimem na realidade e nas práticas dos homens, distinguindo entre o que é e o que deveria ser, buscando um conhecimento mais próximo do verdadeiro para se entender as ligações da vida diária com a lógica e com as forças dominantes da macroestrutura social.

Para alterar este quadro, o projeto “PHENIX: ...” tem procurado atuar junto aos adolescentes dessas classes sociais para que, por meio da reflexão sobre as questões que os mantém atados a estas estereotipias, estes indivíduos consigam desenvolver uma consciência crítica e cidadã que conduza à reconstrução de um coletivo solidário e a uma crescente politização das suas vidas cotidianas.

Entendemos, também, não ser fácil para universitários jovens dar conta das exigências teóricas, éticas e políticas deste processo de pesquisa, principalmente diante da despolitização que vem acompanhando o processo de educação dos jovens atuais. Por isto estamos atentos para lhes fornecer embasamento teórico-metodológico que amplie sua capacidade de conhecer e agir com os problemas psicossociais que vivenciam junto a estes adolescentes, em especial, com relação às questões demandas. Da mesma forma procuramos fornecer-lhes informações sobre a construção dos Estados modernos globalizados (Bauman, 1998; Mariotti, 2000; Agamben, 2007) a fim de permitir-lhes entender melhor as diferenças de classe sociais e a decorrente violência social dos que detém a hegemonia econômica-política.

Sabemos que o trabalho por nós realizado é um trabalho só permite colher resultados a médio e a longo prazo. O processo de conscientização é algo lento e a transformação da consciência em ação é algo mais complexo ainda. Sabemos também que nós mesmos estamos passando por esse processo e entendemos que ele é continuo em nossas vidas. Não há como dizer que já estamos suficientemente conscientes e que não precisamos mais nos conscientizar a respeito de nada. Sempre estaremos precisando trazer à consciência fatos, gestos, histórias, imagens de “coisas” que são presentes em nosso dia a dia e influenciam nosso viver, mas das quais nós nos alienamos. Esse processo, não obstante, é psíquico e depende muito do quanto estejamos dispostos a questionar nossas certezas, conceitos, virtudes ou defeitos, permitindo que a transformação ocorra de dentro para fora. Acreditamos que reside aí o aspecto clínico deste trabalho. Não é fácil, mas, acreditamos que ao final, população e pesquisador sejam capazes de pensar de forma crítica sobre a realidade em que estão inseridos.

Justificando o PHENIX

Partimos da compreensão de que a construção das subjetividades na atualidade é, preferencialmente, realizada via mídia e não podemos deixar de lado a dimensão da violência simbólica –violência mais ou menos invisível– embutida nos modelos identificatórios propostos por ela (Caniato, 2008). Encontramos estes estereótipos nas telas dos aparelhos televisores embebidos em “categorias de acusação“ (Velho, 1987) ou sob certa sinonímia de competência e heroísmo atribuída aos personagens violentos, como a exibida no filme “Tropa de Elite” (2007), assim como sob certo culto (sacramentalização do profano) da violência em programas do tipo Big Brother, principalmente, nos Jacques S e sob euforia quando dos espetáculos resplandecentes dos mísseis espocando nas guerras globais que são considerados “bombardeios democráticos” (Alba Rico, 2007).

Esta violência divulgada/disseminada pela mídia e transmitida de forma banalizada (Arendt, 2000), caso não seja identificada sua fonte social, é naturalizada pelos indivíduos, os quais as transformam, segundo Freud (1981) em autopunição, quando internalizada por eles.

A preocupação central que orienta este Projeto de Pesquisa-Intervenção fundamenta-se na constatação de que as classes sociais pauperizadas vivem sob a violência da exclusão psicossocial (Sawaia, 1999) e expostas, em sua vida pública e privada, às ações marginalizadoras e de coerção sociais. Muitas vezes elas se expõem e exibem as provocações psicossociais de que são alvo, por meio de ações de maior ou menor enfrentamento social, tornando-se presas fáceis de ações repressivas do aparato policial do Estado.

Na sociedade contemporânea , as relações entre os homens estão atravessadas pelas leis do consumo (Mariotti, 2000). O que dizer das tentações consumistas que cercam os adolescentes pauperizados quando submetidos à lógica alienadora do dinheiro e da mercadoria como valores norteadores de condutas, principalmente de status social? (Abeche, 2003). É muito difícil para um adolescente abster-se da glorificação que um tênis Nike em seus pés poderia lhe dar! O alvo preferencial da atual sociedade de consumo, seja como ideal, seja como sintoma, está centrado no modelo da juventude, tornando-se um fascínio para os jovens exibir suas “conquistas” quando ele tem o dinheiro para comprar. E aqueles que não tem poder aquisitivo para realizar este desfile?

O trágico desta vulnerabilidade é a manutenção de uma “vida danificada” (Adorno, 1995), da exacerbação do individualismo violento inerente à ideologia da sociedade capitalista contemporânea (padronização, segundo Adorno, 1986a), que impede os indivíduos de desenvolver uma consciência crítica capaz de libertá-los das malhas da padronização estereotipada de periculosidade que acabam por exibir/sustentar em suas ações cotidianas.

Mais dramática ainda é a sujeição destes indivíduos/grupos a um fatalismo paralisante (Martín-Baró, 1987) que os mantém em sofrimento psicossocial (Caniato, 2003) e impossibilitados de expressões/manifestações emancipatórias (Adorno, 1985). Do ponto de vista do indivíduo, este acaba por submergir aos ditames da violência social internalizada (“sentimento de culpabilidade” – Freud, 1981), impondo –se autopunições mutilantes que repercutem na anulação de suas individualidades e denigrem a sua imagem social– tão ao gosto de certos grupos sociais. Constatamos que os adolescentes pauperizados constroem a respeito de si próprios, imagens bastante distorcidas e ignoram que estão apenas reproduzindo as categorizações sociais estereotipadas de que são alvo. Não conseguem identificar a crueldade a que estão expostos em suas inserções na sociedade. Ficam, assim, impossibilitados de se desvencilhar das amarras dos preconceitos (Caniato, 2008), entregues ao sofrimento do conformismo perverso (Chauí, 1993; Sawaia, 1999) que os mantém apáticos e ao mesmo tempo reproduzem nas relações entre si a violência social que lhes é imputada. Consequentemente, não conseguem se unir uns aos outros para desenvolver práticas psicossociais compromissadas consigo e com os seus iguais, nas quais a solidariedade possa existir e embasar práticas de resgate da humanização que sejam sustentadas por uma ética que não reproduza o extermínio dos homens (Adorno, 1986b; Bauman, 1998).

Se a Academia como um todo –apoiada nos postulados da ciência positivista e engalanados com a “pureza da neutralidade da ciência”– se omite diante das atrocidades que os homens estão vivendo, apesar de estas serem denunciadas por muitos (Coimbra, 2001; Bauman, 2005 e Caniato, 2008), urge que os universitários se familiarizem com estas questões e deixem de ficar escondidos atrás dos muros das Universidades. É necessário colocar o conhecimento científico a serviço do homem, e não o seu contrário, como vem ocorrendo. O método da Pesquisa Intervenção é o adequado para esta cooperação na área das Ciências Humanas.

Que metas pretendemos alcançar?

A) Do ponto de vista dos adolescentes

Esperamos que no decorrer da nossa intervenção junto aos adolescentes pauperizados consigamos cooperar no desenvolvimento de um pensamento reflexivo (consciência crítica) que lhes permita estarem menos vulneráveis diante do poder de cooptação dos preconceitos e das injustiças sociais. Entendemos, também, ser importante que eles consigam buscar o acolhimento junto aos seus pares para, num vínculo de solidariedade, desfazerem a padronização a que estão expostos e, assim, conseguirem certa autonomia individual e respeito à alteridade de seus reais parceiros para potencializar a resistência contra a violência e opressão da sociedade;

B) Do ponto de vista dos mestrandos e acadêmicos de Psicologia

Esperamos que eles consigam atingir um razoável domínio do processo teórico-metodológico da Pesquisa Participante e do referencial teórico que sustenta a compreensão psicossocial das subjetividades contemporâneas e das determinações sociais que oprimem as populações pauperizadas. Pretendemos que desenvolvam neste período um conhecimento da construção psicossocial das subjetividades baseado na Psicanálise sob a abordagem da Teoria Crítica de Theodor Adorno.

Objetivos específicos

Com o desenvolvimento deste Projeto temos como objetivos específicos:

1) colocar o conhecimento científico a serviço das camadas oprimidas e pauperizadas da sociedade atual, que é atravessada por falácias (Caniato, 2007) - ditas como de “bem estar social” –com o objetivo de ajudá– las a se fortalecerem para o enfrentamento, numa resistência político-social;

2) levantar as questões psicossociais primordiais vividas pela comunidade de adolescentes que sejam de interesse desses jovens, fundamentá-las teoricamente e voltar a discutir com eles para fazer a “limpeza” ideológica dos seus conteúdos;

3) interagir com os adolescentes participantes do Projeto na busca de compreensão dos processos psicossociais em que eles estão submersos;

4) refletir, de forma crítica, sobre os entraves e as alternativas emancipatórias que obstaculizam a construção de uma identidade mais verdadeira desses indivíduos;

5) efetivar a preparação teórico-metodológica da equipe universitária (acadêmicos, mestrandos e professores) por meio dos Grupos de Estudos semanais já nomeados;

6) oportunizar o aprimoramento do processo de Pesquisa Intervenção buscando a colaboração de experts em trabalhosdestanatureza que, para tal, serão convidados para avaliar os andamentos dos trabalhos e fornecer informações e bibliografias que permitam o aprofundamento do conhecimento dos professores, mestrandos e acadêmicos envolvidos no Projeto, em especial nas áreas de: Psicanálise e Teoria Crítica;

7) colaborar com a equipe pedagógica e de educadores do Colégio Estadual da rede Pública de Ensino por meio da devolução das sistematizações teóricas da Pesquisa Intervenção efetuada com os adolescentes vinculados a esta Instituição, assim como colocar a disposição desses profissionais todos os trabalhos produzidos pela equipe de pesquisadores: os de Iniciação Científica (PIBIC/PIC), os artigos dos mestrandos e professores do Projeto e as dissertações dos mestrandos.

Que caminho seguir?

O projeto “PHENIX: A Ousadia do Renascimento do Indivíduo-Sujeito - FASE II” tem sua orientação metodológica pautada na Pesquisa Participante e Observação Militante, pela qual, de acordo com Thiollent (1981) e Brandão (1981 e 1984), um dos objetivos é colocar em questionamento os princípios ideológicos que sustentam a produção do conhecimento. O princípio da neutralidade, por exemplo, cai por terra ao percebermos que “... nenhum conhecimento é neutro e nenhuma pesquisa serve teoricamente a todos dentro de mundos sociais concretamente desiguais ...” (Brandão, 1981, p. 11). A partir do método eleito neste projeto, o grupo pesquisado não é visto como mero sujeito de pesquisa, mas como um dos partícipes dela que realiza tanto a ação de conhecer como também a ação de transformar o conhecimento e a realidade social. Nesta metodologia, inverte-se o autor do objeto de pesquisa. Não é mais o pesquisador que o delimita, e, sim, é a população alvo que propõe o que deva ser estudado: são as questões demanda.

Dentro dessa orientação metodológica, utilizamos o conceito de “práxis” para designar nossa intervenção. Entendemos práxis como uma “... atividade intencional do homem que visa, em última análise, o bem do homem. ... A práxis é uma atividade de aperfeiçoamento contínuo da espécie humana e da sociedade. Poderíamos chamar a esta última de “atividade formativa” (Carone, 2003, pp. 2 e 4). Na práxis desenvolvida por este projeto, temos como fundamentação epistemológica a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt (em especial, a obra de Theodor Adorno) e, por alicerce, a visão de que o homem é produtor e produto da cultura em que vive (Leontiév, 1978)

Pensamos que dessa forma estamos construindo uma “educação emancipatória”, pois

... ao contrário das explicações tradicionais e liberais da escolarização, com sua ênfase nas continuidades históricas e no desenvolvimento histórico, a teoria critica dirige a educação para um modo de análise que enfatiza as rupturas, descontinuidades e tensões na história, todas as quais se tornam valiosas na medida em que enfatizam o papel central da ação humana e da luta, ao mesmo tempo que revelam o hiato entre a sociedade atual como deveria ser (Giroux, 1986, p.57).

Dessa forma, pesquisadores e pesquisados tornam-se sujeitos de uma atividade coletiva, sem perder a especificidade de suas contribuições diferentes, embora mantenham objetivos comuns.

O Projeto “PHENIX:...” se desenvolve em duas etapas, descritas a seguir.

A primeira etapa consiste na preparação teórica dos acadêmicos e mestrandos participantes do “PHENIX:...”, com o objetivo de fundamentar as discussões que constituem a parte prática junto aos adolescentes. Isto ocorre por meio de Grupos de Estudos. Um deles faz a leitura e sistematização teórica dos principais conceitos da obra de Theodor Adorno; o outro procede ao levantamento bibliográfico e discussão supervisionada dos conteúdos psicossociais relativos às questões demandas sugeridas pelos adolescentes; e no terceiro grupo fazemos uma releitura da obra de Freud à luz da Psicopolítica Adorniana: é o grupo de estudo “El Malestar en la Cultura”.

A segunda parte desta pesquisa consiste na intervenção dos acadêmicos e mestrandos da UEM junto aos adolescentes. Esta práxis se realiza por meio de reuniões semanais com grupos de adolescentes, nas quais são levantadas as questões demandas a serem discutidas nos encontros posteriores. O objetivo da intervenção, nesta segunda etapa do projeto, consiste em desfazer certas identificações disruptivas, em relação a si e ao seu grupo social, que os adolescentes vêm construindo no decorrer das suas vidas, em função de estarem bombardeados pelos modelos identificatórios idealizados e excludentes - portanto, violentadores - difundidos pela indústria cultural (Adorno, 1986a). Tais modelos priorizam o individualismo em detrimento do coletivo e a mercadoria como mediadora dos vínculos entre os homens e como base identitária para os indivíduos. Em especial, por serem adolescentes das classes pauperizadas, eles ainda sofrem os efeitos perversos da atribuição de malignidade (preconceitos) que acabam por internalizar (Coimbra, 1993 e 2001 e Caniato, 2008).

Inicialmente alertamos os adolescentes sobre a função manipulatória da mídia e sua interferência na formação das subjetividades. A introdução deste tema objetiva permitir aos adolescentes um pouco da compreensão crítica das imagens midiáticas, para poderem analisar a influência que sofrem dos modelos identificatórios propostos/impostos pela indústria cultural (Adorno, 1986a). Não podemos desprezar a função dos meios de comunicação de massa de construir mentalidades adaptadas ao status quo dominante e sua atuação onipresente em qualquer área da vida dos homens. Entendemos que este procedimento se tornou uma importante alavanca para as nossas reflexões, tendo em vista a ampla difusão e o poder ideológico de penetração da mídia no âmago das subjetividades.

Fica explicito, então, que a práxis, como educação crítica emancipatória, conduz a mudanças psicossociais que, se por um lado não interessam ao status quo, mas:

... enquanto não se pode mudar o mundo macroeconômico, devemos no empenhar na prática micropolítica em prol da politização crescente da sociedade civil, da vida cotidiana, dos grupos minoritários, etc. (Carone, 2003, p. 7).

Para que haja um maior envolvimento dos adolescentes e sua participação nas atividades, os integrantes do projeto “PHENIX: ...” sempre trabalham as questões demandas com o auxílio de dinâmicas de grupo, filmes, programas de televisão, músicas, revistas, matérias para recorte..., ou seja, usam a criatividade para que as discussões dos temas propostos sejam atraentes e acessíveis à compreensão do público alvo.

Ademais, este tipo de pesquisa exige da equipe de pesquisadores (professores, mestrandos e acadêmicos de Psicologia) um contínuo preparo científico e o desenvolvimento da sensibilidade vincular que facilite acompanhar as mudanças psicossociais que ocorrem na população sujeito e na sociedade.

A metodologia da pesquisa participante exige, também, o desenvolvimento de um processo de auto-crítica que torne a cada um permeável, receptivo e identificado com às demandas da população alvo, pois todos nós estamos vulneráveis a ser manipulados e cooptados pelas formas padronizadas, violentadoras do ser-indivíduo –“máscara mortuária”– (Adorno, 1986a). Além do mais, para que o “Senhor Capital reine soberano” (Carone, 1991) é exigido que os indivíduos sejam padronizados e reproduzam o modo de ser necessário para a manutenção do status quo. Todos são chamados a dar a adesão ao modo desprezível, preconceituoso e autoritário com que a sociedade lida com as populações pauperizadas. Como nos aliarmos a estes grupos sem temer possíveis represálias e punições?

Em tal contexto, trabalhar neste Projeto de Pesquisa-Intervenção significa manter uma “atenção flutuante” contínua com relação às implicações da violência como forma por excelência do viver humano na sociedade contemporânea globalizada (Caniato, 2008). Tais violências corrosivas não terminam no âmbito da intimidade subjetiva –nessa espécie de prazer em “lamber as próprias feridas”– mas penetram sorrateiramente nos vínculos interpessoais nos moldes do que Theodor Adorno examina em “Educação após Auschwitz” (1986b):

Aquele que é duro contra si mesmo adquire o direito de sê-lo contra os demais e se vinga da dor que não teve a liberdade de demonstrar, que precisou reprimir. Esse mecanismo deve ser conscientizado, da mesma forma como deve ser fomentada uma educação que não mais premie a dor e a capacidade de suportá-la. ... não devemos reprimir o medo. Quando o medo não for reprimido, quando nos permitirmos ter tanto medo real quanto essa realidade merecer, então possivelmente muito do efeito destrutivo do medo inconsciente e reprimido desaparecerá (pp.39-40).

Novamente deixamos Adorno (1995) falar com a noção de “moralidade negativa”, que se refere à exigência de que “Auschwitz não se repita nunca mais”; mas o autor observa que o “passado não passou”, no que é seguido por pensadores contemporâneos tais como Bauman (1998) e Agamben (2007). Consequentemente, a sensibilidade ético-política dos profissionais engajados em projetos como este tem que estar aguçada para detectar que o homem contemporâneo está sob a “danificação da vida” e se empenhar para sair dessa opressão. Por meio da experiência singular desta Pesquisa Intervenção, pretendemos que a nossa atuação seja uma reação à apatia e ao conformismo, em prol da politização crescente da vida cotidiana das populações pauperizadas. Os resultados esperados estão descritos a seguir.

A) Com os adolescentes

Ao oferecermos informações aos adolescentes que lhes permita melhor compreender a sociedade e nela situar-se de forma menos prejudicial a si e a seus pares, acreditamos que estaremos facilitando certa autonomia das injunções sociais perversas que atravessam suas vidas. Da mesma forma, esperamos que alguma modificação possa ocorrer na relação entre eles, que venha minimizar a competição e o tratamento depreciativo uns com os outros que vimos observando.

B) Nossa preocupação com os acadêmicos e mestrandos se situa em dois planos, a saber:

  1.  no nível científico pretendemos que eles consigam desenvolver sensibilidade capaz de identificar as situações cruciais (questões demandas) vividas pela população em intervenção e adquirir certo domínio teórico metodológico a fim de manejar o processo de Pesquisa Participante;
  2. no nível ético-político pretendemos que eles consigam estabelecer vínculos identitários com as populações pauperizadas e desenvolvam um pensamento reflexivo e crítico que lhes permita compromissar-se e colaborar com estes adolescentes.

Impactos esperados

  1. Em relação à População Alvo

Entendemos que o grande impacto deste projeto de Pesquisa Intervenção consiste em transpor os muros da Universidade e levar o conhecimento científico produzido na Academia para populações da periferia de Maringá que vivem em sofrimento em função da exclusão e controle sociais que as oprimem. Os adolescentes pauperizados acolhidos por este processo de intervenção são vulneráveis porque suas vidas estão atravessadas pelo jugo das maledicências e criminalizações que lhes são atribuídas socialmente, por meio de diferentes estereótipos e preconceitos vinculados a sua situação de pobreza. Em seus processos de identificação, acabam por internalizar estas atribuições perversas, que podem desencadear prejuízos em suas formas de ver, sentir e pensar a si e a seus iguais, aniquilando as suas possibilidades de reverter o processo de exclusão social em que vivem. Nossa preocupação é cooperar com eles a fim de que desenvolvam um pensamento reflexivo que certamente lhes permitirá a emergência de uma certa dignidade com relação a si, a seus familiares e a seus amigos que, tal como eles, são pobres. É esta expectativa que alimenta a nossa esperança de ajudá-los a desenvolver certa resistência social, conduzida por este processo de educação emancipatória que efetivamos junto a eles. Embora nossa preocupação seja de atingir, apenas, seus processos de consciência, sabemos o quanto este trabalho é benéfico para que estes jovens se tornem mais felizes. Esta é a dimensão clínica de nossa pesquisa intervenção.

Está plenamente justificada nossa postura compromissada com esta população a partir da premissa de que o conhecimento científico produzido por esta pesquisa permite a melhoria das condições de vida de adolescentes renegados pela sociedade.

  1. Em relação aos Mestrandos e Acadêmicos de Psicologia

A Pesquisa Intervenção tem uma característica ímpar que a difere das pesquisas tradicionais: seu objeto de pesquisa não é definido pelo pesquisador e, sim, pelos sujeitos de pesquisa, pela população alvo. São as questões demandas que orientam os estudos que o pesquisador deve fazer para atender as exigências de conhecimento do grupo em intervenção. Esta circunstância exige do pesquisador uma contínua disponibilidade para a aquisição de conhecimento, a fim de que ele possa atender as necessidades levantadas pelo grupo. Esta é uma metodologia muito pouco estudada nos Cursos de Graduação em Psicologia e que vai exigir do acadêmico dedicação à população, pois exige compromisso ético e político com ela. Aliás, esta abertura ao conhecimento é uma tarefa para qual o profissional da Psicologia deve se preparar, tendo em vista a diversidade do seu campo trabalho e as diferentes exigências dos vários grupos com que pode vir a trabalhar.

 

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